Livro CREPÚSCULO ( AUTORA Stephenie Meyer ) Cap. 1
1. À PRIMEIRA VISTA
MINHA MÃE ME LEVOU AO AEROPORTO COM AS JANELAS DO CARRO abertas. Fazia 24 graus em Phoenix, o céu de um azul perfeito e sem nuvens. Eu estava com minha blusa preferida __ sem mangas, de renda branca com ilhoses; eu a vesti como um gesto de despedida. Minha bagagem de mão era uma parca.
Na península Olympic, do noroeste do estado de Washington, há uma cidadezinha chamada Forks, quase constantemente debaixo de uma cobertura de nuvens. Chove mais nessa cidade insignificante do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos. Foi desse lugar e de suas sombras melancólicas e onipresentes que minha mãe fugiu comigo quando eu tinha apenas alguns meses de idade. Nessa cidade eu fui obrigada a passar um mês a cada verão até ter 12 anos. Foi então que finalmente bati o pé. Nos últimos três verôes, meu pai, Charlie, passou duas semanas de férias comigo na Califórnia.
Era em Forks que eu agora me exilava __ uma atitude que assumi com muito pavor. Eu detestava Forks.
Eu adorava Phoenix. Adorava o sol e o calor intenso. Adorava a cidade vigorosa e esparramada.
__ Bella __ disse a minha mãe, pela centésima vez, antes de eu entrar no avião __ você não precisa fazer isso.
Minha mãe é parecida comigo, a não ser pelo cabelo curto e as rugas de expressão. Senti um espasmo de pânico ao fitar seus olhos arregalados e infantis. Como eu podia deixar que minha mãe amorosa, instável e descuidada se virasse sozinha? É claro que agora tinha o Phil, então as contas provavelmente seriam pagas, haveria comida na geladeira, gasolina no carro e alguém para chamar quando ela se perdesse, mas mesmo assim...
__ Eu quero ir __ menti. Sempre menti mal, mas ultimamente ando contando essa mentira com tanta frequência que agora parecia quase convincente.
__ Diga a Charlie que mandei lembranças.
__ Vou dizer.
__ Verei você em breve __ insistiu ela. __ Pode vir para casa quando quiser... Eu volto assim que você precisar de mim.
Mas eu podia ver, nos olhos dela, o sacrifício por trás da promessa.
__ Não se preocupe comigo __ insisti. __ Vai ser ótimo. Eu te amo, mãe.
Ela me abraçou com força por um minuto e depois entrei no avião, e ela se foi.
De Phoenix a Seattle são quatro horas de vôo, outra hora em em pequeno avião até Port Angeles, depois uma hora de carro até Forks. Voar não me incomodava; a hora no carro com Charlie, porém, era meio preocupante.
Charlie foi realmente gentil com tudo aquilo. Parecia realmente satisfeito que eu, pela primeira vez, fosse morar com ele por um período mais longo. Já me matriculara na escola e ia me ajudar a comprar um carro.
Mas sem dúvida seria estranho com Charlie. Não éramos o que se chamaria de falantes, e eu não sabia se havia alguma coisa para dizer. Sabia que ele estava bastante confuso com minha decisão __ como minha mãe antes de mim, eu não escondia o fato de detestar Forks.
Quando pousamos em Port Angeles, estava chovendo. Não vi isso como um presságio __ era apenas inevitável. Eu tinha dado adeus ao sol.
Charlie me aguardava na radiopatrulha. Eu também esperava por isso. Charlie é o chefe de polícia Swan para o bom povo de Forks. Minha principal motivação por trás da compra de um carro, apesar da verba escassa, era que me recusava a circular pela cidade em um carro com luzes vermelhas e azuis no teto. Nada deixa o trânsito mais lento do que um policial.
Charlie me deu um abraço desajeitado com um só braço quando eu cambaleei para fora do avião.
__É bom ver você, Bells __ disse ele, sorrindo enquanto automaticamente me segurava e me firmava. __ Você não mudou muito. Como está a Renée?
Eu tinha só algumas malas. A maior parte das minhas roupas do Arizona era leve demais para Washington. Minha mãe e eu havíamos juntado nossos recursos para complementar meu guarda-roupa de inverno, mais ainda assim era reduzido. Coube tudo muito bem na mala da viatura.
__ Achei um bom carro par você, baratinho __ anuncioe ele quando estávamos afivelando o cinto.
__ Que tipo de carro? __ Fiquei desconfiada do modo como ele disse " um bom carro pra você ", em vez de simplesmente " um bom carro ".
__ Bom, na verdade é uma picape, um Chevy.
__ Onde o achou?
__ Lembra de Billy Black, de La Push? __ La Push é a pequena reserva indìgena no litoral.
__ Não.
__ Ele costumava pescar com a gente no verão __ incentivou Charlie.
Isso explicava por que eu não me lembrava dele. Eu era bastante competente em bloquear da minha memória coisas dolorosas e desnecessárias.
__ Ele agora está numa cadeira de rodas __ continuou Charlie quando eu não respondi __, não pode mais dirigir, e ofereceu a picape por um preço baixo.
__ De que ano é? __ Eu podia ver, pela mudança em sua expressão, que essa era a pergunta que ele esperava que eu não fizesse.
__ Bom, o Billy trabalhou muito no motor... Na realidade só tem alguns anos.
Eu esperava que ele não me substimasse a ponto de acreditar que eu desistiria com tanta facilidade.
__ Quando foi que ele comprou?
__ Comprou em 1984, eu acho.
__ Ele a comprou nova?
__ Bom, não. Acho que era no início dos anos 60... Ou final dos anos 50, no máximo __ admitiu ele timidamente.
__ Ih... Pai, eu não entendo nada de carros. Não conseguiria consertar se alguma coisa desse errado, e não posso pagar um mecânico...
__ Na verdade, Bella, o troço funciona muito bem. Não fazem mais carros assim.
O troço, pensei comigo mesma... Era possível __ como apelido, na melhor das hipóteses.
__ É barata mesmo? __ Afinal, essa era a parte em que eu não podia contemporizar.
__ Bom, querida, já está quase comprado para você. Como um presente de boas - vindas. __ Charlie me olhou de lado com uma expressão esperançosa.
Caramba. De graça.
__ Não precisava fazer isso, pai. Eu mesma ia comprar um carro.
__ Tudo bem. Quero que seja feliz aqui. __ Ele estava olhando para a estrada à frente ao dizer isso. Charlie não ficava à vontade quando se tratava de externar as emoções em voz alta. Herdei isso dele. Então fiquei olhando para a frente quando respondi.
__ Foi muito gentil de sua parte, pai. Eu agradeço muito. __ Não era necessário acrescentar que, para mim, era impossível ser feliz em Forks. Ele não precisava sofrer junto comigo. E a picape dada não se olham os dentes __ nem o motor.
__ Não foi nada __ murmurou ele, constrangido com minha gratidão.
Trocamos mais alguns comentários sobre o clima, que estava úmido, e a maior parte da conversa não passou disso. Ficamos olhando pela janela em silêncio.
Era lindo, é claro; eu não podia negar isso. Tudo era verde: as árvores, os troncos cobertos de musgo, os galhos que pendiam das copas, a terra coberta de samambaias. Até o ar filtrava o verde das folhas.
Era verde demais __ um planeta alienígena.
Por fim chegamos à casa de Charlie. Ele ainda morava na casinha de dois quartos que comprara com minha mãe nos primeiros tempos de seu casamento. Aqueles foram os únicos tempos que o casamento teve __ os primeiros. Ali estacionada na rua da frente da casa que nunca mudava, estava minha nova __ bom, nova para mim __ picape. Era de um vermelho desbotado, com pára-lamas grandes e arredondados e uma cabine bulbosa. Para minha grande surpresa, eu adorei. Não sabia se ia funcionar, mas podia me ver nela. Além disso, era um daqueles negócios sólidos que não quebram nunca __ do tipo que se vê na cena de um acidente, a pintura sem um arranhão, cercado pelas peças do carro importado que foi destruído.
__ Caramba, pai, adorei! Obrigada! __ Agora meu pavoroso dia de amanhã seria bem menos terrível. Não teria que decidir entre andar três quilômetros na chuva até a escola e aceitar uma carona na radiopatrulha do chefe.
__ Que bom que você gostou __ disse Charlie rudemente, de nove sem graça.
Apenas uma viagem foi necessária para levar minhas coisas para cima. Fiquei com o quarto do lado oeste, que dava para o jardim da frente. O quarto era familiar; me pertencia desde que nasci. O piso de madeira, as paredes azul-claras, o teto pontiagudo, as cortinas de renda amarelas na janela __ tudo isso fazia parte da minha infância. As únicas mudanças que Charlie fizera foram trocar o berço por uma cama e acrescentar uma escrivaninha, à medida que eu crescia. A mesa agora tinha um computador de segunda mão, com a linha telefônica para o modem grampeada pelo chão até a tomada de telefone mais próxima. Isso fora estipulado por minha mãe, assim poderíamos manter contato facilmente. A cadeira de balanço de meus tempos de bebê ainda estava no canto.
Só havia um banheiro pequeno no segundo andar, que eu teria que dividir com Charlie. Estava tentando não pensar muito nisso.
Uma das melhores coisas em Charlie é que ele não fica rondando a gente. Deixou-me sozinha para desfazer as malas e me acomodar, uma proeza que teria sido completamente impossível para minha mãe. Era legal ficar sozinha, sem ter que sorrir e parecer satisfeita, um alívio olhar desanimadamente pela janela para a chuva entristecendo tudo e deixar algumas lágrimas escaparem. Eu não estava com vontade de ter um acesso de choro. Ia economizar para a hora de dormir, quando teria que pensar na manhã seguinte.
A Forks Hing School tinha um total assustador de apenas 357 __ agora 358 __ alunos;em Phoenix, havia mais de setecentas pessoas só do meu ano. Todas as crianças daqui foram criadas juntas __ seu avós engatinharam juntos. Eu seria a garota nova da cidade grande, uma curiosidade, uma aberração.
continua